terça-feira, 12 de outubro de 2010

Bebidas Isotônicas X Erosão Dental

Folha.com



Um estudo desenvolvido numa parceria entre o Departamento de Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), revelou que bebidas isotônicas podem causar danos ao esmalte dentário se forem consumidas de modo excessivo e por período prolongado. Essas bebidas são tão ou mais ácidas do que refrigerantes.

Segundo BARTLETT (International Dental Journal (2005) 55, 277-284), o desgaste dentário reduz a espessura do esmalte, expondo a dentina subjacente e alterando a cor branca do esmalte para o amarelo da dentina. Os ácidos causadores da erosão têm a sua origem no estômago ou na dieta alimentar. O ácido gástrico está associado à doença do refluxo e aos distúrbios alimentares (Bulimia, por exemplo). A frequência e o modo como são consumidos as bebidas e os alimentos ácidos desempenham um papel importante na erosão.

Não poderia, também, deixar de citar aqui que existem casos de erosão ácida pela exposição ocupacional ou industrial, ou seja, por inalação prolongada de vapores ácidos.

A pesquisa, coordenada pelo professor de Odontologia Alessandro Leite Cavalcanti, e desenvolvida pela mestranda Alidianne Fábia Cabral Xavier, obteve repercussão nacional. O estudo comparou alguns tipos de Gatorade com água destilada. "Concluímos que essas bebidas são muito erosivas. Atletas e consumidores não têm consciência disso", afirma Alessandro Cavalcanti, dentista, professor da UEPB.

As bebidas isotônicas - também conhecidas como bebidas esportivas - são bastante consumidas por adolescentes e adultos jovens, principalmente entre os que praticam atividades físicas. Todavia, vários estudos realizados no Brasil e no exterior têm demonstrado que possuem baixo pH, podendo ocasionar o surgimento de alterações nos dentes conhecidas como “lesões erosivas”. O pH refere-se a uma medida que indica se uma solução líquida é ácida, neutra, ou básica/alcalina.

De acordo com o professor Alessandro Cavalcanti, a erosão é um dano que acomete os tecidos dentários e o paciente pode ter sensibilidade dolorosa acarretada pela perda de substância, além de problemas estéticos e funcionais.

Foi analisada em laboratório a perda mineral em dentes humanos após a exposição a esses produtos. Os testes laboratoriais confirmaram que essas bebidas possuem realmente um baixo pH, sendo constatada uma perda da dureza do esmalte dentário nos dentes que foram expostos à ação da bebida. (Todos os líquidos e alimentos com pH abaixo de 5,5 podem ser nocivos para o esmalte dental)

Depois que esses líquidos são ingeridos, a saliva tem a função de neutralizar o processo de desmineralização. Mas, quando o consumo é contínuo, a neutralização não acontece.

"Quando consumimos em pequenas quantidades e intervalos pequenos, a saliva não dá conta de reverter o processo. Enquanto o pH fica inferior a 5,5, os dentes estão perdendo cálcio e fosfato", diz Marcelo Bönecker, dentista e professor da USP.

"Muitas bebidas são ácidas, mas a forma de consumo do isotônico é diferente. São bebidas tomadas muitas vezes durante a prática esportiva. Ninguém consome de uma vez só"(Dra. Sheyla Auad, especialista em erosão dental.)

Outro problema é que muitas dessas bebidas têm carboidratos e açúcares. "Nesse caso, junta o risco de dois tipos de lesão: a cárie e a erosão. São dois problemas sérios. A erosão ainda é pouco conhecida", diz Bönecker.

A recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é que isotônicos sejam consumidos só por atletas e com orientação de um especialista.

Segundo a Gatorade, "um estudo publicado em 2002 no "Journal Caries Research" com mais de 300 atletas da Ohio State University, não demonstrou ligações entre o uso de bebidas esportivas e a erosão dentária."

Diante dos resultados obtidos, os autores recomendam que o consumo desses produtos – semelhantes a outras bebidas, como os refrigerantes e os sucos de frutas in natura e industrializados – seja feito de maneira moderada. Para os pacientes que já apresentam lesões erosivas, é aconselhável procurar o dentista para definir qual a melhor forma de tratamento, de acordo com a gravidade de cada caso.

FONTE: Folha.com, Notícias UEPB, International Dental Journal



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